quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Em meio aos palacetes gigantes
Escutando os gritos dos paletós
e a algazarra da multidao
a exaustidão toma conta do corpo,
alias, não há mais corpo
só uma voz fanha que não se ouve

terça-feira, 29 de julho de 2008

Todas essas coisas sobre as quais falo
estão marcadas, gravadas
nas peles, na cor, no sangue
nas manchas causadas pela lua e pelo sereno diário

Todas essas coisas você encontra
nas disposições das vertebras, pelo andar curvado
nos cabelos coloridos e embaraçados
na densidade da merda: arroz, feijão e farinha

Na deselegância de sobreviver
De não ter mais nada para respirar

segunda-feira, 28 de julho de 2008

...

juro que to precisando de ferias de mim mesmo...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O labirinto


A imaginação as vezes é a unica válvula de escape
para o estupro que a vida é

Sentir as unhas do falo rasgar lhe as pernas
Matar a sede no sangue que lhe escorre pela boca
Ter um banquete a sua frente e sentir fome
Querer embreagar-se e não poder tomar do vinho
Sentir os olhos atravessar sua alma
A pulsação do desejo interrompida pelos sinos
Subir as escadas e se deparar com nada
Ficar a beira do abismo e nao se jogar

A queda

Me encontro diante de um abismo
Com medo me arrasto e olho para baixo
dizem que a queda promove a purificação
Lentamente me ergo, sentindo todo o peso do meu ser
Lentamente me movo
Rapidamente recuo...

Morro

O mercado abre cedo
Arroz, feijão e batatas
As pessoas em abundância
No ritmo corriqueiro do dia

As janelas todas abertas
Os barracos a esperar o dia
Nem todos
Alguns esperam a tarde
Outros a noite

Os sorrisos
As promessas e os beijos nas crianças
Aquela obra e aquela calçada

As botas polidas, bem polidas
Depois de pisarem no barro
E benzidas pelo Hino

O barulho fino e incômodo do engatilhar
Os fuzis em prontidão
As botas em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
Num lugar tão mais alto, que o próprio deus não enxerga
Num lugar onde os homens e mulheres estão em demasia
Vamos gritar e cantar nossos Hinos
Os braços fortes

Cuidar desses filhos gentis
Estes mesmo,
Sim, aqueles que estão por detrás
Do arroz, do feijão e das batatas

Vamos polir, deixar tudo polido
Assim como o seu azul

As crianças em seus berços
Ou nos cercados
As benzedeiras engatilhadas
Sempre em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
E onde deus não ouve

Os foguetes avisam
Os foguetes sempre em prontidão
Vermelhos, brancos, amarelos e rosas

O rubro sorriso se desmantela
Ao ouvir o gatilho das botas

Vamos subir
Deus não ouve nem enxerga
Só há os beijos nas crianças em seus berços

A musica muda o tom
O tom fica mais rápido
E grave

A marcha começa
O límpido está a serviço
Com teus braços fortes

Algumas crianças ainda não acordaram
Outras mamam em teu seio
Por detrás das janelas fechadas dos barracões
Outras abertas

E a marcha continua
Com tuas botas que antes pisavam lama

O gatilho aponta
O gatilho indica
O gatilho e a bota os entregam
Para aquele outro lugar
Um outro lugar tão mais alto do que os céus
Um outro lugar que escapa às mãos de deus
Um lugar que a liberdade se entrega

Então
Lá estão as benzedeiras
Junto aos fuzis
Ao som da musica, do gatilho
E do badalar dos sinos

Milhões de homens e mulheres
Num lugar tão alto que ninguém os ouve
Ninguém os enxerga

Brincadeira de roda...

A musica tocava
As pessoas rodavam
Os cigarros com suas cinzas a cair, os copos entornavam
Todos em volta das cadeiras azuis
Um cetim maravilhoso a despistar a mancha de suor
Agora todos em volta das cadeiras
A musica mais rápida e as cinzas no chão
E a esperança de poder sentar no macio do cetim azul

Reminiscências (trabalho didatico)

Reminiscências

O relógio marca as dezoito horas. Hora de ir para a escola. Todos os dias a mesma rotina: desligar a TV, ligar o rádio, arrumar o uniforme e tomar banho. Aquela preguiça batendo no corpo, mas fazer o quê, mamãe sempre diz: menino você quer puxar carroça? Então é melhor vestir o uniforme, tomar um café e ir para o Affonso Neves.
Estudei nesse colégio desde os seis anos de idade, ainda hoje lembro da minha infância quando sinto o cheiro da massinha de modelar ou da aquarela, e como era bonitinho o plástico que ficava sobre a carteira, mas claro que meus “trabalhinhos” eram péssimos. Mas incrível como eu adorava aquilo tudo, principalmente minha caixinha de bugiganga. Nela se encontrava de tudo, barbantes, latinhas, fitas, papeis, “potinhos” de danoninho... Como a infância é gostosa, como é bom lembrar dela. Mas não posso falar mais sobre, pois esse trabalho trata sobre meu ensino médio, que também foi, de certa maneira, gostoso.
Na entrada do colégio tinha o nome dele, Escola estadual Professor Affonso Neves, com o segundo f quebrado, durante os doze anos que estudei ali nunca tiveram a preocupação de arrumar o f. Acho que entre o f e a merenda eles preferiam comprar a merenda.
Um dia engraçado foi quando ganhamos duas grandes mesas para merendar, brancas como algodões, achávamos aquilo muito chique, afinal não teríamos que comer no balcão da cantina naqueles bancos gelados de madeira vendo que o nosso macarrão era escorrido numa peneira de pedreiro, mas depois percebemos que elas se pareciam com as mesas usadas pelos presos em Oz e que também ocupavam todo o espaço do pátio. E sem pátio onde faríamos educação física? Entre as mesas para a merenda e o lugar para a educação física, eles escolheram as mesas, afinal não tínhamos quadras e sim um lugar cimentado com algumas faixas brancas, mas como era bom arranhar os joelhos ali! Não me esqueço do dia que a Aline, uma colega de turma de muitos anos, fez um gol no campeonato e depois bateu a cabeça na trave enquanto corria para comemorar, e o pior que só depois de ter sido socorrida pela professora Rita, ela se deu conta que tinha feito gol contra. Como zoávamos ela.
Agora comecei a me lembrar dos tombos. Foram muitos tombos memoráveis no Affonso neves. O qual me lembro com mais precisão foi o da professora Janaina, ela acabava de tirar o Samuel da sala de aula pela orelha, depois quando retornou para a sala tropeçou no buraco do chão, ela caiu feito fruta madura de cem quilos. Me lembro também de quando a Mona caiu das escadas, de quando eu caí porque corria atrás da Aline, do Thiago durante os ensaios da peça A quadrilha, da Poly quando o Vaguinho puxou a sua cadeira... Foram muitos tombos, mas o maior de todos foi quando a Conceição perdeu a direção para a Márcia, acho que desse tombo o Affonso Neves ainda não se recuperou.
O Affonso não é um colégio muito grande, ele tem aquela estrutura típica de colégios públicos, feitos em tijolinhos marrons, dois conjuntinhos de prédio com oitos salas e a diretoria embaixo, um pátio à frente da cantina, uma quadra improvisada e uma biblioteca com alguns livros.
Eu adorava a biblioteca, teve uma época que eu lia uns três livros por semana, achava mó legal ter que procurar a localização do livro através daquele arquivo feio, com as fichinhas de papel. A bibliotecária foi uma das minhas primeiras professoras, até hoje quando a vejo na rua a chamo de tia.
Cursei o ensino médio no turno da noite, no início era legal, afinal, antes eu só tinha estudado na parte da manhã. Mas depois fui percebendo que era ruim, os professores parecem ser menos interessados, os alunos também. Raridade era ter uma aula boa, e o pior que durante os três anos do ensino médio foram os mesmos professores, os mesmos alunos, tudo o mesmo com algumas pequenas mudanças, mas mesmo as mudanças pareciam acontecer para deixar tudo o mesmo.
A melhor de todas, digo isso com certeza ironia, era a professora de português que nunca deu uma aula de português! Ela chegava em sala de aula, com seus óculos na ponta do nariz e começava a falar de uns tais cinco S, pelo amor de deus, passei o meu primeiro ano todo a aprender esses tais S. E quando a turma começava a conversar e a reclamar da aula ela tinha crises de estresse e jogava na nossa cara o diploma dela pela Universidade Federal e alguns outros. E ela tinha um cisma especial comigo, eu podia estar calado que ela me mandava calar a boca, minha mãe achava que era paixão.
Tinha a professora de inglês, ela sim era uma boa professora, a única dessa matéria que conseguiu fazer com que a turma aprendesse o verbo to be e avançasse para o verbo to have, ela também tinha uma cisma especial comigo, me chamava de dicionário ambulante. Mas eu só sabia porque era viciado em vídeo-games, computador e filmes. Adorava o jeito dela de falar hey class. Já o professor de matemática tinha uma mania terrível de chamar a todos de amantes de matemática, a aula dele era péssima, nos ensinava a calcular a área de um quadrado por meio de mil formulas e achava que estava nos ensinando a coisa mais fantástica do mundo. O professor de física parecia um japonesinho que falava estranho, que ensinava a calcular a sombra de uma pessoa através da sombra de uma árvore, e pensava estar nos preparando para o vestibular. E quantos alunos você acha que foram aprovados no vestibular?
Mas a mais cativante de todas era a professora de biologia, faço o uso da ironia novamente, ela detestava dar aulas assim como nós a detestávamos, e ela ainda nos fez ficar traumatizados com a Sônia Lopes, nos fazia copiar páginas e páginas do livro dessa autora.
Tive muitos professores ruins, tantos que agora mal consigo me lembrar de outro que tenha sido bom, salvo a professora de inglês. Alguns professores até que tentavam fazer algo de diferente nas aulas, mas sempre encontravam dificuldades. Por exemplo, tínhamos alguns materiais para o laboratório de química, mas nunca conseguimos verba para construir uma sala para o laboratório, o máximo que conseguimos foi ver as células de uma cebola através de um microscópio muito antigo. O laboratório de informática viemos a ter a pouco tempo, a UFMG nos doou alguns computadores velhos e o governo nos mandou alguns novos, mas nos mandou sem termos uma sala para colocá-los. Depois de algum tempo a direção nos pediu doações de tijolos, areia e cimento e conseguimos construir uma salinha no fundo do pátio. Menos espaço para a educação física. Mas quem ligava para a educação física, agora nos tínhamos computadores! Bem vindo século XXI!
Eu fui monitor do laboratório de informática durante um tempo, pois, eu era um dos poucos alunos que tinham computador em casa, e assim, algum conhecimento de informática.
Até que eu era um bom aluno, ganhei algumas medalhas nas olimpíadas de matemática e português que todo ano havia na escola, e fiquei uns bons anos seguidos em segundo lugar geral das notas mais altas do colégio, sempre empatado com a Aline, aquela que bateu o rosto na trave, e sempre atrás da Simone. Só que não fazia abstinência do que era considerado mau comportamento... como eu gostava de conversar, e conversava alto. Afinal, escola também é lugar para aumentar seu círculo de amizade... pelo menos essa era a desculpa que eu dava na hora de levar as broncas. Lembro-me das inúmeras vezes que a professora de português me mandava fazer silêncio mesmo eu estando calado, dizia ela que era força do hábito.
Ser considerado um bom e mau aluno ao mesmo tempo era algo interessante, permitiu que eu fizesse amizades com todos os grupinhos da escola. Eu fazia parte do grupinho dos “nerds”, da turma do fundão, dos excluídos, dos queridinhos dos professores...
Mas com o passar do tempo fui me tornando um estudante mais crítico, seja pela educação que recebia dentro de casa, pelos livros devorados ou pelas experiências vividas dentro e fora do colégio. Com isso fui reparando que essas olimpíadas e medalhas nada mais eram do que instrumentos que intensificavam e delineavam um perfil de aluno-exemplo e não levavam em consideração as diferenças e o universo de cada aluno, assim, destruindo a auto-estima e outras capacidades de muitos outros estudantes. Os métodos de avaliação não levavam em consideração nenhum outro fator a não ser a sua capacidade de “arquivar” aquilo que o professor falava em sala de aula ou aquilo que estava escrito nos livros.
A escola e os seus métodos de avaliação, tornam se então um meio de exclusão social e deixam de formar estudantes capazes de atuar no contexto social e político. Formando cidadãos passivos e vulneráveis à desejos que não são os dele e, muito menos, do seu meio social.
A minha escola perdeu muito nesse sentido. Ela não se identificava com os seus alunos. Não nos conseguiu fazer enxergar que somos seres políticos e construtores ativos desse mundo. Dessa forma ela passou a não ter muito sentido para mim e para quase nenhum outro aluno.
O relógio marcava as dezoito horas e só íamos lá para um dia termos um diploma e ficar a mercê de um mundo que está preparado para nos engolir.

Porta

Caminho lentamente até a porta
Uma grande porta de madeira e aço
Velha, cupins e traças
Tento abri-la com uma chave trabalhada a mão

O barulho do trinco me remete
A lugares sombrios
Onde só minha mente alcança

O barulho é incomodo
Não sei descrevê-lo
Ao mesmo tempo em que me parece agudo
É grave
Tão alto que só eu o escuto

quarta-feira, 9 de julho de 2008

...

Fala que nao sabe
Fala que agride
Fala que fere
Fala que adoça

...

oi
alguem
ola!!
merda...
cade a luz?
por favor alguem...
tem alguem ai?

terça-feira, 17 de junho de 2008

...

O sol queimando a testa. Ele estava ali, sentado à frente daquela casa velha e amarela, com seu cigarro na boca, uma tosse insuportável.

Criancices

Bichinhos flutuando
a madeira a protege
o seio a alimenta

o choro me diz a hora
o silencio tambem

a primeira ponta branca
a machucar
os quatro pontos
a guiar

depois dois

o primeiro som
os medos
os desejos

ele explica
eu tambem
voce, tambem

Mais tolices

Consolos finais
consolos ilusorios
toda aquela bobagem

contos e cronicas
Nada estava certo

Um rio de bobagens
de idiotices
crendices tolas

Nem se quer serviram para me iludir
Nao ha mascaras que me sirvam
me sinto nu

o frio me queimando
as arvores me cobrindo

cade teu corpo

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Tolices

Bandinni não sabe o que fazer.
As coisas se tornam a cada instante mais confusas...
a lucidez se perde, o cigarro já nao causa efeito, a bebida não mata a sede, a comida nao enche a barriga.
Nem mesmo as letras formam palavras.
Ele não se faz.

Correr, gritar, cuspir, pular...
O que fazer??
Talvez orar.

Que sentimento é esse que lhe toma todo o corpo e toda a mente...
que pertuba o sono
que ofusca a cabeça

Não vale a pena gritar um palavrão
Não há nada que seja suficiente para expressar tanto peso
Nem mesmo as palavras, falas ou gestos
É necessário um mergulho dentro do próprio ser
ou ao menos dentro do próprio peso

Mas como atingir algo tão profundo
Essa coisa que atinge o espirito da gente
Que machuca feito agulha quente
Que faz o sangue parar de correr
Que me torna mais mortal do que jamais pensei que fosse

Não adianta procurar no espelho
Nem nos teus olhos
No divã talvez

Perguntar a Deus
Ou aos Deuses
Aos meus orixas
A minha rainha

Achar a resposta com os joelhos fincados na terra
Lavar o rosto nas águas de Iemanja
Beber do teu vinho
Comer no teu corpo

Nada mais faz sentido
Muito menos essa tolas palavras...

domingo, 25 de maio de 2008

Esferas

Não sei o que me acontece...

meus poros se abrem,
mas nao consigo transpirar nem uma gota sequer
minha pele resseca num relaxar intenso
a respiração acelerada
as duas
sinto-o entrar pela minha boca
junto à uma esfera metalica
um gosto de sangue doce

dois corpos se fundem em desejo
duas mentes opostas em vontade
um só sexo
um só genero

Ali repouso
Ali me excito
Ali me deito
Ali me farto

As ondas são como num dia tranquilo de mar
os olhos como dois sois
o sangue... não sei explicar
o corpo rígido e folgado

A alma passa a existir...

Depois a fumaça
a janela e o vento

Desvio o olhar
não consigo encarar
tanto desejo

novamente a fumaça
a janela e o vento

Mais tarde uma vontade
quase insurpotavel de dizer

Eis entao que lhe digo

desejo
a esfera metalica
o doce gosto do sangue
o teu rubro corpo

sábado, 17 de maio de 2008

cicatriz, ele, hífens e ela

Uma cicatriz.
Quase um alto-relevo,
traços definidos
traços rubro-negro.
Ali, diante dele prosta-se a perfeição
lamenta-se por nao se-lô.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Ato

Bandinni sente-se inquieto.
Senta- se em frente ao computador, mas nao consegue escrever nem duas linhas para a matéria que ele tinha para entregar na segunda-feira. Anda de um lado para o outro, acende um cigarro, depois outro, à procura de alguma bebida; os armarios todos vazios.
Os sinos da igrejinha acusam ser meia-noite, aquele badalar lhe causa um sensação estranha.
A mesa com seus papeis e copos sujos é lançada violentamente contra o ar.
Um grito para matar o silêncio e um tiro para calar a angustia.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Navegante Negro

Homens vindos do mar
Flagelos...
no porto, no mar
lá estão todos eles
uma infinitude de pontos negros
uma infinitude de traços vermelhos
teus braços movem os mares, os oceanos, as águas e os rios
na proa, bem ao longe, vê tua terra
no teu berço se lança
para nao mais sentir o rubro peso da dor

Ata me

de olhos fechados corro em direção à lua
sinto a brisa suave da noite sobre meu queixo
o urro do vento nos meus braços
e a liberdade em meus pés

domingo, 13 de abril de 2008




Agora encontro me num processo de verticalizacao...


Onde o que importa é horizontar o conhecimento


Simbologias, externos, demagogias e ideologias nao importam mais,


Agora o importante é, justamente, o que todas essas coisas sao em si.


terça-feira, 8 de abril de 2008

Para ...

Como ousa dividir o que é meu
Aquilo que conquistei

Sou taurino, egoista, egocentrico e o que mais quiser dizer
E nao adimito que dê a outrem aquilo que é meu

já lhe disso isso:
você é meu, e da tua boca monopolio fiz
como ousas dividir o que é meu?

Areias

Tudo é muito branco e não consigo achar o ponto negro.
Quero escutar as ondas do universo vindas daquela concha.
Preciso do mar, da minha areia da minha terra.
A finco busco-a.
Eu a quero.
Desejando a mim mesmo.

[ a criança está sorrindo para mim]

Bambole

Eu me sinto fraco.
Perdido dentro das minhas entranhas, na viscosidade do meu ser.
Os meus pensamentos dançam e brincam com a minha lucidez.
Meu corpo é bambo,
E os meus dedos tentam se equilibrar nas cordas.
Tento matar minha sede nos meus cigarros.
[As crianças lá fora gritam. Eu grito]
Me guio pelos meus traços, pelas minhas linhas feitas de sombra.
A costura da minha vida é feita por três olhos cegos.
Não há luz, só a vermelhidão do sangue.
Eu sangro. Sangro pus.
O cheiro da fumaça me entorpece.
Quero me guiar.
Quero o meu cais pra nele me jogar.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Nao tem titulo

Queria ter a habilidade de poder falar dessa realidade.
De conseguir escrever e dizer coisas belas a respeito de tudo isso.
Tudo isso que me consome, de tudo que é negro e poluido.
De tudo aquilo que eu construo.
Poder falar deles, de mim e até mesmo de você.
Mas nao a tenho.
Talvez eu precise ser consumido por tudo que construo.
Consumir ele e até mesmo você. Engolir o ar negro da atmosfera.
Ao fim conseguir consumir a mim mesmo.
Ai quem sabe poderei falar de tudo que é real.

Cem anos de sucesso

A multidão lá fora gritava muito, bandeiras, faixas, cartazes e muita musica. Eu não sabia muito bem do que se tratava, até que ouvi um senhor sentado a minha frente dizer algo sobre os cem anos do Clube Atlético Mineiro. Algumas coisas me incomodam, e futebol certamente é uma delas. Que graça tem assistir à um jogo onde o que mais vale é a beleza do jogador, para os outdoors e propagandas televisivas, e não sua habilidade, e de que vale torcer pela vitória, sendo que o que se está em jogo são os milhares de dólares nos cofres dos clubes, quando muitas vezes se ganha mais com a derrota do que com a vitória.
O futebol tem o grande poder de maquiar as coisas, o preto no branco, o azul no branco ou o vermelho no preto pintado nos rostos dos torcedores muitas vezes lhe tampam os olhos para a verdadeira e crua cor do mundo. Mas o futebol também é grandioso, permite nos sonhar, desejar, cobiçar, ensina-nos a disputar e como ganhar. É esperança também, quem nunca ouviu alguém disser: gostaria de ser jogador de futebol.
Ah sim, o nosso grandioso sistema neoliberal nos diz que toda mudança é possível e o que é belo e respeitoso são uma bela casa com um carro bacana na garagem e uma loira dos olhos claros ao lado, claro que, com a Dona-maria-de-tranças na outra casa próxima ao subúrbio. Eu disse próximo, porque ninguém merece o subúrbio, eita que no feio. Meu texto começa a perder a coerência, comecei falando do futebol e agora cá estou falando de subúrbio.
Eu gostaria de continuar a falar dos sonhos... Como é bom sonhar. Quem nunca sonhou com a Cláudia Raia ou com o Dicaprio ou então em ganhar na loteria, que atire a primeira pedra! O senhor neoliberal diz que nos podemos ter tudo isso, ai, como adoro esse senhor tão otimista... Como o adoro. Mas claro que esse senhor, na sua mais divina bondade, pois ele está sentado ao lado do nosso outro grande senhor Jesus Cristo, nos esquece de dizer como é difícil o caminho para os sonhos, que chega a ser muitas vezes impossível. Ou então, não nos diz que esse caminho é na verdade para a ostentação dos sonhos de outros e não os nossos. Mas isso tudo é porque o importante é ter otimismo. Viva a América!
Um outro dia qualquer eu li numa entrevista o seguinte: “ As regiões do nordeste são o nosso foco principal, principalmente a Bahia. Onde geralmente achamos os aspirantes à jogadores de futebol que melhor nos cabe. Isso por conta do elevado índice de miscigenação e o baixo nível de escolaridade. Essa é a nossa receita para o sucesso”. Palavras de um empresário futebolístico, Fulano Alguma Coisa (porque eu sou ético, né gente) loiro dos olhos azuis, pele clara e educação européia. E como é bonito esse contraste do branco com o preto, quem não gosta? Dá-lhes Galo, e viva os seus 100 anos de sucesso!!
E o senhor do branco da frente: quero que meu filho se torne um grande jogador.

O Ser do Ente

Ser colorido
Ser absorto
Ser ele
Ser você
Ser nós
Ser tudo isso, e um pouco daquilo
Ser o que vê
Ser o que sente
Por fim ser do'ente

segunda-feira, 24 de março de 2008

Violetas e Tulipas

Clarice olhou para o céu, o dia estava bonito, mas parecia que ia chover.

*

Melhor volta e pegar meu guarda-chuvas - ela pensou. Onde estava?

- George, você sabe onde está o meu guarda-chuva, sabes que não gosto que mudem minhas coisas de lugar.
- Está exatamente onde a senhorita o deixou.
- O deixei aqui ao lado da porta e ele não está aqui, como podes perceber.
- Minha senhorita, você o guardou em seus aposentos.
- Ah sim, perdão meu caro George, minha memória já não é mais a mesma.
A senhorita sofria de uma doença que lhe ataca todo o sistema nervoso e conseqüentemente a memória.
- E o meu chapéu florido?
- Sobre sua penteadeira, minha pequena.

Ela guardava tudo em seu quarto para que fosse mais fácil de encontrar. Subiu dois lances de escadas e entrou no quarto principal. Seu quarto. Ali havia um monte de coisas, ate mesmo um bule que ela havia ganhado de sua avó. Mas em todo aquele monte de coisas, havia algo que lhe fez fixar o olhar, um vaso de violetas. Ela parou com o chapéu nas mãos e ficou um tempo a encarar a violeta que tinha poucas pétalas e estava um pouco murcha, mas que ainda tinha algo de vida e até mesmo certa beleza. Clarice virou e olhou se no espelho, ela também ainda tinha algo de vida, então sorriu com tranqüilidade para o seu reflexo naquele espelho manchado pelo tempo e poeira. Pegou seu guarda-chuvas e se retirou.
- George peça a Marta que me prepare um bom almoço, estou com apetite hoje.
- Tens certeza de que vais sair? O tempo não está muito bom.
- Não diga bobagens George, o dia está lindo. Tchau.
- Bom passeio senhorita.
- Irei comprar flores e visitar mamãe.

As ruas estavam vazias, as lojas estavam vazias. Não há dia melhor para se fazer compras que num dia de chuva. Clarice adorava sentir o vento frio em seu rosto, fazia com que ela se lembrasse de sua infância nos planaltos do sul.

*

Nos altos planaltos tudo era verde e vermelho com pitadas de outras cores mais, as arvores belíssimas com portes de gigantes, ou melhor, de amedrontar gigantes e um lago maravilhoso dava boas vindas à propriedade dos Oliveiras.
- Clarice, não vá sujar seu vestido, pare de correr menina – sua mãe lhe ordenou. ah, mas como era bom correr por esses campos.
- Está bem mamãe - mas ela não parava de correr.
George, com seus cabelos negros, servia um suco a sua senhora.
- Ah George, não sei o que faço com Clarice.
- Coisas de criança madame. Coisas de criança – ele repetiu sorrindo para a pequena Clarice.
Clarice tinha uma efêmera coleção, ela gostava de colecionar as flores que caiam no chão, passava horas escolhendo as mais belas e mais coloridas. Mas as flores não duravam muito tempo.

*

Clarice entrou na loja de flores.
- Bom dia Ana.
- Bom dia senhorita Clarice. Como você está?
- Muito bem, o dia esta lindo, não achas? Não sei como as pessoas tem coragem de se esconderem dentro de casa só por causa de uma ameaça de chuva, não há nada melhor do que sentir o frescor do dia.
- Mas parece que vai chover muito, senhorita.
- E que importância isso tem? Há coisa mais bela que as chuvas do fim de verão?
- Certo, e o que vai querer?
- Tulipas, Ana, tulipas. Hoje faz nove anos que minha mãe morreu, quero levar lhe as mais bonitas tulipas que tiveres.
- Ah sim, lembro me de como sua mãe gostava de tulipas. Todas as manhãs de domingo ela vinha comprar tulipas.
- Sim, Ana, ela sempre preferiu as tulipas. Eu prefiro as violetas, são simples, são roxas – Clarice sorri – e duram muitos tempos, ou pelo menos deveriam durar. Dizem que as violetas só morrem quando quem as cuidou também morre.
- Não sabia dessa historia, que interessante Clarice...Você também gosta muito de flores, certo?
- Pois certo, Ana, as adoro. Principalmente as violetas.

*

- Oh minha criança pare de correr tanto, se quiete, sabes que sua mãe teme que te machuques.
- George, quero flores, mas todas que aqui tem eu já tenho. Quais são as suas favoritas, George?
- As minhas favoritas não estão aqui, minha criança. Venha vou te mostrá-las.
George e a criança Clarice subiram os planaltos em direção a casa dos empregados. Ele abriu uma grande porta de vidro que dava para um cômodo que a menina ainda não conhecia. Era um cômodo imenso, frio, aconchegante, com muita luz e cheio de flores.
- Que lugar é esse, George?
- As senhoritas não são as únicas que gostam de flores – ele lhe sorriu – escolha a que mais te agradar e será o teu presente.
Eram muitas flores, de todas as cores, de todos os tamanhos e dos mais diferentes perfumes e ate mesmo odores. Mas tudo se misturava numa harmonia incrível. E cada flor lhe disse George, continha a sua historia. Os olhos da crianaça não sabiam onde se fixar, era difícil escolher uma entre tantas, mas eis que no cantinho do cômodo haviam umas flores pequenas de cores roxas e brancas.
- Quero essas, como se chamam?
- Violetas. Essas, minha pequena, são flores que crescem e vivem à reflexo de quem as cuida. As violetas demonstram todo seu respeito e satisfação através de suas pétalas. É necessário que se cuide delas como se cuida da vida de uma criança.

*

- Aqui estão as suas tulipas, as mais brancas e bonitas que consegui encontrar, srta. Clarice.
- Oh, Ana, que maravilhosas estão elas!
As duas caminharam para o caixa
- Anote na minha caderneta e envie para o George, por favor.
- Como de costume, srta.
- Bom dia, Ana.
- Bom dia. Clarice, só mais uma coisa, você está se sentindo melhor, reparei que não está usando a bengala hoje.
- Sim, Ana, estou me sentindo melhor. Bom dia.
Mas se via no rosto da mulher Clarice todo o cansaço que a doença lhe trouxera.

Clarice dirigia se para o cemitério onde sua mãe estava enterrada. O vento começou a soprar forte, por pouco ela desequilibrara, mas continuava sorrindo. Como é bom sentir o vento. A chuva começou a cair lentamente, muito gelada. Melhor tirar o chapéu, não quero perdê-lo. As ruas estavam completamente vazias, ela sentia falta de cumprimentar ou trocar algumas palavras com alguém. O ônibus não demoraria muito a passar, Clarice andou um pouco mais rápido. a estação de ônibus também estava vazia, salvo um mendigo faminto. A senhorita lhe dera uns trocados, mais por medo do que por compaixão. A presença daquele homem a incomodava. Ela não queria ver tristeza ou imundices hoje. O ônibus chegara, para seu alivio e conforto. Estranho o ônibus também estava vazio. Ônibus é sempre um bom lugar para se pensar na vida, mas Clarice não queria isso. Ela tentou manter, também, a mente vazia. Tudo vazio estava bom assim.
A viagem durara quinze minutos, a chuva já tinha parado. O ônibus a deixou em frente ao cemitério. O cemitério também estava vazio. O lugar estava meio sombrio, Clarice chegou a arrepiar se, mas mesmo assim a beleza dali era algo impressionante, as arvores ali lembravam as de sua infância, aquelas que faziam gigantes sentirem medo. O tumulo de sua mãe ficava perto de um ipê, uma pena que nessa época ele não estava florido.
- Olá mamãe, sinto muito ter sujado a borda de meu vestido. Sei que a senhora não gosta. Trouxe lhe tulipas.
A visita não demorou mais que três minutos. Clarice limpou o epitáfio da mãe e deixou lhe as tulipas. Tulipas que sua mãe tanto gostava.

*

Clarice chegou em casa. George já a esperava no portão. Ela resolveu voltar de táxi, cansou se demais para o ônibus.
- Minha senhorita – Clarice nunca se casara – marta lhe preparou um delicioso jantar.
- Perdi o apetite, meu caro George. Vou deitar me, estou muito cansada. Peça à minha pequena que vá almoçar sozinha, mas que antes venha me ver no quarto. Obrigado George. E chame marta vou precisar de ajuda para trocar me de roupa.
- Não está se sentindo bem?
- O passeio me cansou um pouco. Só isso. Agora ande George, faça o que te pedi.
Marta ajudou a sua senhora a se trocar, ela colocou um lindo penhoar azul, e deitou se.
Bateram de maneira suave na porta.
- Entre minha filha. Venha dar me um beijo antes de almoçar.
A menina beijou sua mãe nos lábios.
- Agora vá almoçar, mas antes tenho um presente para te dar. Vê aquele vaso perto da janela, ele é seu presente.
- Mas mamãe ele está vazio.
- Não seja tola, menina, tem uma semente ai. Uma semente de violetas.
- O que é uma violeta mamãe?
- Vê aquele outro vaso ali, próximo a penteadeira? Aquilo é uma violeta.
- Nossa mamãe, mas que flor feia.
Clarice sorriu docemente.
- Não te preocupe, aquela é a minha, que já está muito cansada e velha. Pode ter certeza que a sua se tornará muito bonita. Agora vá almoçar e peça ao George para te ensinar a como cuidar dessa flor.
- Pois sim, mamãe, beijos.

A menina saiu. A senhora fechou os olhos, adormeceu e logo em seguida a ultima pétala de sua violeta caiu. A chuva começara novamente.




sexta-feira, 7 de março de 2008

Solturas

Lápis Caneta Rabisco Papel Desenho
Borracha Palavra Lagrima Tosse Palavra
Voz Borracha Bolacha Dígitos Suor
Sabor Saliva Fúria Amor Saudade Ódio
Cigarro Isqueiro Fumaça Fogo

Poeminha

Um dia li um poema onde dois homens se olharam, desviaram os olhos, depois sorriram para o teto. A porta do elevador se abriu, eles entraram e se olharam de novo, e dessa vez não olharam para o teto.

MADRUGADA

Bandinni estava com uma dor de cabeça horrível já tinha feito de tudo,tomou todos os analgésicos que estavam na gaveta.
- Puta que pariu! Esses carros não se calam, quem foi o desgraçado que inventou a buzina? Querer dormir é pecado?

COLGATTI

O visionário estava rindo.

Não consigo parar de rir, quero rir... Isso me dá rugas, sinto que estou usando demais os músculos do rosto. Meus olhos caem, a pele seca os dentes apodrecem, mas lá estou eu sorrindo, porque quero. Envelheço precocemente por causa de minhas gargalhadas. Acho que não vou parar.

Acordei hoje e resolvi levar a vida dessa maneira, alegre e sorridente...
O ar está bacana as árvores em seus lugares tudo parecia normal tudo parece com o tédio.
[Quando estamos felizes o tempo passa mais rápido]

Não tenho muito mais o que fazer nesse lugar, sorrirei para que tudo passe rápido. As aves voam como flechas, as nuvens tornam se rabiscos, as pessoas máquinas, os carros voam, o ar torna se negro e a chuva ácida. Estou ali sentado com a chuva queimando meus olhos.

- Oi.
Um amigo senta se a meu lado, há muito tempo não o vejo. Que estranho ele ainda está com a pele firme. Ah sim, ele não está sorrindo deve ser por isso. A chuva não o queima.

Com as costas largas eu o vejo abrir o guarda-chuva.

Tento sorrir com mais vontade... A necessidade do adeus me vem.
Fecho meus olhos queimados.
Adeus.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Carne

O homem é um animal que nasceu para matar. A sociedade, que ele próprio criou, lhe disse: Não, não matarás.

Ele lhe tocava a pele, que era macia e branca como uma pluma. Esse toque despertava nele os mais profundos sentimentos do ser. Bizet tocava ao fundo, muitas velas acessas. Ele montou o lugar romântico ideal para ela, que passou o dia todo comprando flores, se perfumando e sorrindo.

Beijavam-se com profundo desejo, muita paixão, muito querer. Aos poucos ele a despia, nossa que seios maravilhosos, redondos o mamilo explodindo de prazer, os cabelos tampavam lhe o rosto, cabelos vermelhos como o sangue. Toques e mais toques. Prazer e desejo, a carne. A saia, onde estava a saia? Não sei, talvez perto da escrivaninha. Ele com o seu sexo, firme, fez com que eles se tornassem um só ser. A carne, branca avermelhada, não queria parar, ansiava por mais. O amor, como é belo, foi experimentado de todas as formas e jeitos possíveis naquele quarto acesso por velas. O tempo passa e a carne avermelhada, como o sangue, responde com um gemido que estava satisfeita. Pelo menos uma das carnes.
Ele precisava de mais, precisava elevar à máxima potencia os seus desejos, sua fúria, sua vontade. Aí, digo novamente, o homem nasceu para matar. Ele não parava, os olhos dela, que como o mamilo explodia de prazer, agora estavam um pouco angustiados, temerosos. Mas ele precisava de mais, foi então que como instinto pegou a faca do jantar, tampou lhe a boca... a face da mulher agora rubra como o medo. Ele precisava de mais, só isso, acho que todos nos podemos entendê-lo. Risos do visionário. Cravou lhe a faca sob o umbigo, olhos arregalados. Pensar e sentir a lâmina rasgar aquele corpo branco despertou naquele homem o mais primário dos desejos de alguém. Começou a cortar a face da mulher, seus braços, arrancou lhe os lábios, e o sangue escorria como uma serpente, linda e vistosa. Agora o sangue cobria, junto com seus cabelos, a sua face. E aquele momento termina não com um gemido, mas com um grito. Não, não. Dois gritos, um de prazer e outro de pavor. O maior dos encontros acontece, o encontro entre a vida e a morte.

No final das contas o que realmente importa é o prazer, a qualquer custo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Utopia

Imagina um mundo sem trabalho, sem divisoes nem preocupacoes,
nem portas nem vidraças...
onde tudo fosse orgias,apenas.

O Guerreiro

E lá estava o guerreiro... Cansado, exausto. O sangue, de um brilho intenso, escorria em seu rosto, a batalha já durava dias e noites. O corpo todo lhe doía, sua visão já ofuscava. Diante dele seu inimigo alto, vivo, ainda inteiro apenas com pequenos arranhões e lhe preparava um outro golpe, talvez o ultimo.

O campo de batalha era lindo, parecia um templo ou qualquer outro lugar sagrado. Tinha algo de divino naquele lugar suspenso com suas arvores que mais pareciam gigantes vigilantes, uma cachoeira que chorava por todo o sangue derramado e o ar úmido com um cheiro que eu, o visionário, não sou capaz de explicar, só sei dizer que também era divino.

Eis então que o inimigo faz sua espada dançar no ar de uma maneira firme. Os olhos do guerreiro se enchem de pavor e se vê obrigado a colocar sua espada em posição de defesa. O inimigo se movimenta rápido e num décimo de segundo ele está golpeando, como um leopardo elegante e feroz, o guerreiro que consegue numa deselegância discreta defender se. Mas ele sabe que não vai ser possível resistir muito mais tempo. Teria ele capacidade de bolar um plano, teria seu inimigo algum ponto fraco? Não dava tempo de pensar muito, os golpes continuavam de maneira incansável. Nesse instante seus olhos se cruzam, e ele entendeu que a ultima coisa a se fazer era retirar o pavor de seus olhos. Pavor este que foi substituído por um brilho de olhar de quem está preparado para morrer sem medo.

Coisa primeira

Passo horas d’fronte a um espelho tentando descobrir quem sou....
Será que sou essa imagem fosca e turva...acho que não...
Não me conformo em ser uma imagem,
Tento, então, buscar o ente que a forma
Mas como faço pra enxergá-lo?
Eis o que faço: viro-me pra ti e olho nos teus olhos
...E o que vejo, nada alem d’outra imagem, só que desta vez diferente
Uma imagem banhada em água, água que não seca, percebo algo
De eterno, será o infinito entre os meus e os teus olhos?
Entristeço-me com essa distancia infindável que existe entre mim e eu mesmo, a mesma distancia que separa um décimo de um oitavo, maldito infinito que me deslumbra e temoriza.

Resolvo pegar um papel e um giz de cera
Incessantemente escrevo:
Meu nome, meu nome, meu nome... quando percebo ele já não é mais meu [nome]

[Maldição]

Agora nesse papel feito de luz e sombra, minha imaginação dança
Escrevo outros mil nomes, qual deles será o meu?
Já não sei....
De repente desenho uma estrela,
Encantado objeto que some no infinito espaço do papel

[Me perco novamente]

Procuro-me então nas vozes
Poetas, bêbados, equilibristas, pingentes, astronautas
Todos me gritam...
Mas não consigo saber de onde vem o som

Percebo ali na escrivaninha uma concha
Aproximo-a do ouvido, acho que finalmente descobri de onde vem o som
Mas eis que me acho dentro de um vazio, no qual o som não pode se criar
Então vejo me perdido dentro da concha [vazia]

Por fim penso que não posso me achar nunca
Então percebo como é boa a sensação de estar perdido no infinito vazio
Quero o infinito, quero sê-lo!
Eis que finalmente me acho...

Bobagem

Coisas estupidas sao ditas a toda hora.

Você consegue imaginar algo que nao tenha sentido? Ou que nao tenha uma funcionalidade? Algo que existe simplesmente por existir? Pior, você conseguiria criar alguma coisa que seja desprovida de sentido? Eu não.

A aula estava tediosa, escrevia meu nome em cima do xerox da aula de "estudos sociologicos", que tinha um bonequinho que ficava sorrindo para mim. Entao comecei a contornar seus labios, suas pernas, seu boné. O professor continuava a falar que a cadeira podia nao ser a cadeira, começava entao um discurso muito chato sobre o metodo da duvida de Descartes. Até que de repente ficou interessante quando o Professor disse que existiam coisas sem sentido...Poxa, como isso me incomodou.
Levantei minha mao, me identifiquei e perguntei: "O Sr. poderia me dar um exemplo de alguma coisa que exista sem sentido??"
- Um certo artista- ele me respondia - uma certa vez pegou um mictorio e o colocou como uma exposicao de arte, uma arte que responderia justamente a essa pergunta da existencia de coisas sem sentido.
- Mas, veja bem - eu disse - fazer uma arte sem sentido já nao é dar a ela justamente o sentido da falta de sentido?

Ele se enrolou um pouco, disse que nao. E começou de novo o discurso de Descartes.
Antes dele abandonar a sala, "professor será que voce poderia criar algo sem sentido e me trazer na proxima aula?"

- É, acho que nao.