terça-feira, 29 de julho de 2008

Todas essas coisas sobre as quais falo
estão marcadas, gravadas
nas peles, na cor, no sangue
nas manchas causadas pela lua e pelo sereno diário

Todas essas coisas você encontra
nas disposições das vertebras, pelo andar curvado
nos cabelos coloridos e embaraçados
na densidade da merda: arroz, feijão e farinha

Na deselegância de sobreviver
De não ter mais nada para respirar

segunda-feira, 28 de julho de 2008

...

juro que to precisando de ferias de mim mesmo...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O labirinto


A imaginação as vezes é a unica válvula de escape
para o estupro que a vida é

Sentir as unhas do falo rasgar lhe as pernas
Matar a sede no sangue que lhe escorre pela boca
Ter um banquete a sua frente e sentir fome
Querer embreagar-se e não poder tomar do vinho
Sentir os olhos atravessar sua alma
A pulsação do desejo interrompida pelos sinos
Subir as escadas e se deparar com nada
Ficar a beira do abismo e nao se jogar

A queda

Me encontro diante de um abismo
Com medo me arrasto e olho para baixo
dizem que a queda promove a purificação
Lentamente me ergo, sentindo todo o peso do meu ser
Lentamente me movo
Rapidamente recuo...

Morro

O mercado abre cedo
Arroz, feijão e batatas
As pessoas em abundância
No ritmo corriqueiro do dia

As janelas todas abertas
Os barracos a esperar o dia
Nem todos
Alguns esperam a tarde
Outros a noite

Os sorrisos
As promessas e os beijos nas crianças
Aquela obra e aquela calçada

As botas polidas, bem polidas
Depois de pisarem no barro
E benzidas pelo Hino

O barulho fino e incômodo do engatilhar
Os fuzis em prontidão
As botas em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
Num lugar tão mais alto, que o próprio deus não enxerga
Num lugar onde os homens e mulheres estão em demasia
Vamos gritar e cantar nossos Hinos
Os braços fortes

Cuidar desses filhos gentis
Estes mesmo,
Sim, aqueles que estão por detrás
Do arroz, do feijão e das batatas

Vamos polir, deixar tudo polido
Assim como o seu azul

As crianças em seus berços
Ou nos cercados
As benzedeiras engatilhadas
Sempre em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
E onde deus não ouve

Os foguetes avisam
Os foguetes sempre em prontidão
Vermelhos, brancos, amarelos e rosas

O rubro sorriso se desmantela
Ao ouvir o gatilho das botas

Vamos subir
Deus não ouve nem enxerga
Só há os beijos nas crianças em seus berços

A musica muda o tom
O tom fica mais rápido
E grave

A marcha começa
O límpido está a serviço
Com teus braços fortes

Algumas crianças ainda não acordaram
Outras mamam em teu seio
Por detrás das janelas fechadas dos barracões
Outras abertas

E a marcha continua
Com tuas botas que antes pisavam lama

O gatilho aponta
O gatilho indica
O gatilho e a bota os entregam
Para aquele outro lugar
Um outro lugar tão mais alto do que os céus
Um outro lugar que escapa às mãos de deus
Um lugar que a liberdade se entrega

Então
Lá estão as benzedeiras
Junto aos fuzis
Ao som da musica, do gatilho
E do badalar dos sinos

Milhões de homens e mulheres
Num lugar tão alto que ninguém os ouve
Ninguém os enxerga

Brincadeira de roda...

A musica tocava
As pessoas rodavam
Os cigarros com suas cinzas a cair, os copos entornavam
Todos em volta das cadeiras azuis
Um cetim maravilhoso a despistar a mancha de suor
Agora todos em volta das cadeiras
A musica mais rápida e as cinzas no chão
E a esperança de poder sentar no macio do cetim azul

Reminiscências (trabalho didatico)

Reminiscências

O relógio marca as dezoito horas. Hora de ir para a escola. Todos os dias a mesma rotina: desligar a TV, ligar o rádio, arrumar o uniforme e tomar banho. Aquela preguiça batendo no corpo, mas fazer o quê, mamãe sempre diz: menino você quer puxar carroça? Então é melhor vestir o uniforme, tomar um café e ir para o Affonso Neves.
Estudei nesse colégio desde os seis anos de idade, ainda hoje lembro da minha infância quando sinto o cheiro da massinha de modelar ou da aquarela, e como era bonitinho o plástico que ficava sobre a carteira, mas claro que meus “trabalhinhos” eram péssimos. Mas incrível como eu adorava aquilo tudo, principalmente minha caixinha de bugiganga. Nela se encontrava de tudo, barbantes, latinhas, fitas, papeis, “potinhos” de danoninho... Como a infância é gostosa, como é bom lembrar dela. Mas não posso falar mais sobre, pois esse trabalho trata sobre meu ensino médio, que também foi, de certa maneira, gostoso.
Na entrada do colégio tinha o nome dele, Escola estadual Professor Affonso Neves, com o segundo f quebrado, durante os doze anos que estudei ali nunca tiveram a preocupação de arrumar o f. Acho que entre o f e a merenda eles preferiam comprar a merenda.
Um dia engraçado foi quando ganhamos duas grandes mesas para merendar, brancas como algodões, achávamos aquilo muito chique, afinal não teríamos que comer no balcão da cantina naqueles bancos gelados de madeira vendo que o nosso macarrão era escorrido numa peneira de pedreiro, mas depois percebemos que elas se pareciam com as mesas usadas pelos presos em Oz e que também ocupavam todo o espaço do pátio. E sem pátio onde faríamos educação física? Entre as mesas para a merenda e o lugar para a educação física, eles escolheram as mesas, afinal não tínhamos quadras e sim um lugar cimentado com algumas faixas brancas, mas como era bom arranhar os joelhos ali! Não me esqueço do dia que a Aline, uma colega de turma de muitos anos, fez um gol no campeonato e depois bateu a cabeça na trave enquanto corria para comemorar, e o pior que só depois de ter sido socorrida pela professora Rita, ela se deu conta que tinha feito gol contra. Como zoávamos ela.
Agora comecei a me lembrar dos tombos. Foram muitos tombos memoráveis no Affonso neves. O qual me lembro com mais precisão foi o da professora Janaina, ela acabava de tirar o Samuel da sala de aula pela orelha, depois quando retornou para a sala tropeçou no buraco do chão, ela caiu feito fruta madura de cem quilos. Me lembro também de quando a Mona caiu das escadas, de quando eu caí porque corria atrás da Aline, do Thiago durante os ensaios da peça A quadrilha, da Poly quando o Vaguinho puxou a sua cadeira... Foram muitos tombos, mas o maior de todos foi quando a Conceição perdeu a direção para a Márcia, acho que desse tombo o Affonso Neves ainda não se recuperou.
O Affonso não é um colégio muito grande, ele tem aquela estrutura típica de colégios públicos, feitos em tijolinhos marrons, dois conjuntinhos de prédio com oitos salas e a diretoria embaixo, um pátio à frente da cantina, uma quadra improvisada e uma biblioteca com alguns livros.
Eu adorava a biblioteca, teve uma época que eu lia uns três livros por semana, achava mó legal ter que procurar a localização do livro através daquele arquivo feio, com as fichinhas de papel. A bibliotecária foi uma das minhas primeiras professoras, até hoje quando a vejo na rua a chamo de tia.
Cursei o ensino médio no turno da noite, no início era legal, afinal, antes eu só tinha estudado na parte da manhã. Mas depois fui percebendo que era ruim, os professores parecem ser menos interessados, os alunos também. Raridade era ter uma aula boa, e o pior que durante os três anos do ensino médio foram os mesmos professores, os mesmos alunos, tudo o mesmo com algumas pequenas mudanças, mas mesmo as mudanças pareciam acontecer para deixar tudo o mesmo.
A melhor de todas, digo isso com certeza ironia, era a professora de português que nunca deu uma aula de português! Ela chegava em sala de aula, com seus óculos na ponta do nariz e começava a falar de uns tais cinco S, pelo amor de deus, passei o meu primeiro ano todo a aprender esses tais S. E quando a turma começava a conversar e a reclamar da aula ela tinha crises de estresse e jogava na nossa cara o diploma dela pela Universidade Federal e alguns outros. E ela tinha um cisma especial comigo, eu podia estar calado que ela me mandava calar a boca, minha mãe achava que era paixão.
Tinha a professora de inglês, ela sim era uma boa professora, a única dessa matéria que conseguiu fazer com que a turma aprendesse o verbo to be e avançasse para o verbo to have, ela também tinha uma cisma especial comigo, me chamava de dicionário ambulante. Mas eu só sabia porque era viciado em vídeo-games, computador e filmes. Adorava o jeito dela de falar hey class. Já o professor de matemática tinha uma mania terrível de chamar a todos de amantes de matemática, a aula dele era péssima, nos ensinava a calcular a área de um quadrado por meio de mil formulas e achava que estava nos ensinando a coisa mais fantástica do mundo. O professor de física parecia um japonesinho que falava estranho, que ensinava a calcular a sombra de uma pessoa através da sombra de uma árvore, e pensava estar nos preparando para o vestibular. E quantos alunos você acha que foram aprovados no vestibular?
Mas a mais cativante de todas era a professora de biologia, faço o uso da ironia novamente, ela detestava dar aulas assim como nós a detestávamos, e ela ainda nos fez ficar traumatizados com a Sônia Lopes, nos fazia copiar páginas e páginas do livro dessa autora.
Tive muitos professores ruins, tantos que agora mal consigo me lembrar de outro que tenha sido bom, salvo a professora de inglês. Alguns professores até que tentavam fazer algo de diferente nas aulas, mas sempre encontravam dificuldades. Por exemplo, tínhamos alguns materiais para o laboratório de química, mas nunca conseguimos verba para construir uma sala para o laboratório, o máximo que conseguimos foi ver as células de uma cebola através de um microscópio muito antigo. O laboratório de informática viemos a ter a pouco tempo, a UFMG nos doou alguns computadores velhos e o governo nos mandou alguns novos, mas nos mandou sem termos uma sala para colocá-los. Depois de algum tempo a direção nos pediu doações de tijolos, areia e cimento e conseguimos construir uma salinha no fundo do pátio. Menos espaço para a educação física. Mas quem ligava para a educação física, agora nos tínhamos computadores! Bem vindo século XXI!
Eu fui monitor do laboratório de informática durante um tempo, pois, eu era um dos poucos alunos que tinham computador em casa, e assim, algum conhecimento de informática.
Até que eu era um bom aluno, ganhei algumas medalhas nas olimpíadas de matemática e português que todo ano havia na escola, e fiquei uns bons anos seguidos em segundo lugar geral das notas mais altas do colégio, sempre empatado com a Aline, aquela que bateu o rosto na trave, e sempre atrás da Simone. Só que não fazia abstinência do que era considerado mau comportamento... como eu gostava de conversar, e conversava alto. Afinal, escola também é lugar para aumentar seu círculo de amizade... pelo menos essa era a desculpa que eu dava na hora de levar as broncas. Lembro-me das inúmeras vezes que a professora de português me mandava fazer silêncio mesmo eu estando calado, dizia ela que era força do hábito.
Ser considerado um bom e mau aluno ao mesmo tempo era algo interessante, permitiu que eu fizesse amizades com todos os grupinhos da escola. Eu fazia parte do grupinho dos “nerds”, da turma do fundão, dos excluídos, dos queridinhos dos professores...
Mas com o passar do tempo fui me tornando um estudante mais crítico, seja pela educação que recebia dentro de casa, pelos livros devorados ou pelas experiências vividas dentro e fora do colégio. Com isso fui reparando que essas olimpíadas e medalhas nada mais eram do que instrumentos que intensificavam e delineavam um perfil de aluno-exemplo e não levavam em consideração as diferenças e o universo de cada aluno, assim, destruindo a auto-estima e outras capacidades de muitos outros estudantes. Os métodos de avaliação não levavam em consideração nenhum outro fator a não ser a sua capacidade de “arquivar” aquilo que o professor falava em sala de aula ou aquilo que estava escrito nos livros.
A escola e os seus métodos de avaliação, tornam se então um meio de exclusão social e deixam de formar estudantes capazes de atuar no contexto social e político. Formando cidadãos passivos e vulneráveis à desejos que não são os dele e, muito menos, do seu meio social.
A minha escola perdeu muito nesse sentido. Ela não se identificava com os seus alunos. Não nos conseguiu fazer enxergar que somos seres políticos e construtores ativos desse mundo. Dessa forma ela passou a não ter muito sentido para mim e para quase nenhum outro aluno.
O relógio marcava as dezoito horas e só íamos lá para um dia termos um diploma e ficar a mercê de um mundo que está preparado para nos engolir.

Porta

Caminho lentamente até a porta
Uma grande porta de madeira e aço
Velha, cupins e traças
Tento abri-la com uma chave trabalhada a mão

O barulho do trinco me remete
A lugares sombrios
Onde só minha mente alcança

O barulho é incomodo
Não sei descrevê-lo
Ao mesmo tempo em que me parece agudo
É grave
Tão alto que só eu o escuto

quarta-feira, 9 de julho de 2008

...

Fala que nao sabe
Fala que agride
Fala que fere
Fala que adoça

...

oi
alguem
ola!!
merda...
cade a luz?
por favor alguem...
tem alguem ai?