quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O dedilhar frio
nas entranhas mornas
do precipicio

Os espinhos da nevoa
na boca
E o falar continuo
da luz
nos olhos

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Em meio aos palacetes gigantes
Escutando os gritos dos paletós
e a algazarra da multidao
a exaustidão toma conta do corpo,
alias, não há mais corpo
só uma voz fanha que não se ouve

terça-feira, 29 de julho de 2008

Todas essas coisas sobre as quais falo
estão marcadas, gravadas
nas peles, na cor, no sangue
nas manchas causadas pela lua e pelo sereno diário

Todas essas coisas você encontra
nas disposições das vertebras, pelo andar curvado
nos cabelos coloridos e embaraçados
na densidade da merda: arroz, feijão e farinha

Na deselegância de sobreviver
De não ter mais nada para respirar

segunda-feira, 28 de julho de 2008

...

juro que to precisando de ferias de mim mesmo...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O labirinto


A imaginação as vezes é a unica válvula de escape
para o estupro que a vida é

Sentir as unhas do falo rasgar lhe as pernas
Matar a sede no sangue que lhe escorre pela boca
Ter um banquete a sua frente e sentir fome
Querer embreagar-se e não poder tomar do vinho
Sentir os olhos atravessar sua alma
A pulsação do desejo interrompida pelos sinos
Subir as escadas e se deparar com nada
Ficar a beira do abismo e nao se jogar

A queda

Me encontro diante de um abismo
Com medo me arrasto e olho para baixo
dizem que a queda promove a purificação
Lentamente me ergo, sentindo todo o peso do meu ser
Lentamente me movo
Rapidamente recuo...

Morro

O mercado abre cedo
Arroz, feijão e batatas
As pessoas em abundância
No ritmo corriqueiro do dia

As janelas todas abertas
Os barracos a esperar o dia
Nem todos
Alguns esperam a tarde
Outros a noite

Os sorrisos
As promessas e os beijos nas crianças
Aquela obra e aquela calçada

As botas polidas, bem polidas
Depois de pisarem no barro
E benzidas pelo Hino

O barulho fino e incômodo do engatilhar
Os fuzis em prontidão
As botas em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
Num lugar tão mais alto, que o próprio deus não enxerga
Num lugar onde os homens e mulheres estão em demasia
Vamos gritar e cantar nossos Hinos
Os braços fortes

Cuidar desses filhos gentis
Estes mesmo,
Sim, aqueles que estão por detrás
Do arroz, do feijão e das batatas

Vamos polir, deixar tudo polido
Assim como o seu azul

As crianças em seus berços
Ou nos cercados
As benzedeiras engatilhadas
Sempre em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
E onde deus não ouve

Os foguetes avisam
Os foguetes sempre em prontidão
Vermelhos, brancos, amarelos e rosas

O rubro sorriso se desmantela
Ao ouvir o gatilho das botas

Vamos subir
Deus não ouve nem enxerga
Só há os beijos nas crianças em seus berços

A musica muda o tom
O tom fica mais rápido
E grave

A marcha começa
O límpido está a serviço
Com teus braços fortes

Algumas crianças ainda não acordaram
Outras mamam em teu seio
Por detrás das janelas fechadas dos barracões
Outras abertas

E a marcha continua
Com tuas botas que antes pisavam lama

O gatilho aponta
O gatilho indica
O gatilho e a bota os entregam
Para aquele outro lugar
Um outro lugar tão mais alto do que os céus
Um outro lugar que escapa às mãos de deus
Um lugar que a liberdade se entrega

Então
Lá estão as benzedeiras
Junto aos fuzis
Ao som da musica, do gatilho
E do badalar dos sinos

Milhões de homens e mulheres
Num lugar tão alto que ninguém os ouve
Ninguém os enxerga