segunda-feira, 14 de julho de 2008

Morro

O mercado abre cedo
Arroz, feijão e batatas
As pessoas em abundância
No ritmo corriqueiro do dia

As janelas todas abertas
Os barracos a esperar o dia
Nem todos
Alguns esperam a tarde
Outros a noite

Os sorrisos
As promessas e os beijos nas crianças
Aquela obra e aquela calçada

As botas polidas, bem polidas
Depois de pisarem no barro
E benzidas pelo Hino

O barulho fino e incômodo do engatilhar
Os fuzis em prontidão
As botas em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
Num lugar tão mais alto, que o próprio deus não enxerga
Num lugar onde os homens e mulheres estão em demasia
Vamos gritar e cantar nossos Hinos
Os braços fortes

Cuidar desses filhos gentis
Estes mesmo,
Sim, aqueles que estão por detrás
Do arroz, do feijão e das batatas

Vamos polir, deixar tudo polido
Assim como o seu azul

As crianças em seus berços
Ou nos cercados
As benzedeiras engatilhadas
Sempre em prontidão

Vamos subir até onde o céu não alcança
E onde deus não ouve

Os foguetes avisam
Os foguetes sempre em prontidão
Vermelhos, brancos, amarelos e rosas

O rubro sorriso se desmantela
Ao ouvir o gatilho das botas

Vamos subir
Deus não ouve nem enxerga
Só há os beijos nas crianças em seus berços

A musica muda o tom
O tom fica mais rápido
E grave

A marcha começa
O límpido está a serviço
Com teus braços fortes

Algumas crianças ainda não acordaram
Outras mamam em teu seio
Por detrás das janelas fechadas dos barracões
Outras abertas

E a marcha continua
Com tuas botas que antes pisavam lama

O gatilho aponta
O gatilho indica
O gatilho e a bota os entregam
Para aquele outro lugar
Um outro lugar tão mais alto do que os céus
Um outro lugar que escapa às mãos de deus
Um lugar que a liberdade se entrega

Então
Lá estão as benzedeiras
Junto aos fuzis
Ao som da musica, do gatilho
E do badalar dos sinos

Milhões de homens e mulheres
Num lugar tão alto que ninguém os ouve
Ninguém os enxerga

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