quinta-feira, 27 de março de 2008

Nao tem titulo

Queria ter a habilidade de poder falar dessa realidade.
De conseguir escrever e dizer coisas belas a respeito de tudo isso.
Tudo isso que me consome, de tudo que é negro e poluido.
De tudo aquilo que eu construo.
Poder falar deles, de mim e até mesmo de você.
Mas nao a tenho.
Talvez eu precise ser consumido por tudo que construo.
Consumir ele e até mesmo você. Engolir o ar negro da atmosfera.
Ao fim conseguir consumir a mim mesmo.
Ai quem sabe poderei falar de tudo que é real.

Cem anos de sucesso

A multidão lá fora gritava muito, bandeiras, faixas, cartazes e muita musica. Eu não sabia muito bem do que se tratava, até que ouvi um senhor sentado a minha frente dizer algo sobre os cem anos do Clube Atlético Mineiro. Algumas coisas me incomodam, e futebol certamente é uma delas. Que graça tem assistir à um jogo onde o que mais vale é a beleza do jogador, para os outdoors e propagandas televisivas, e não sua habilidade, e de que vale torcer pela vitória, sendo que o que se está em jogo são os milhares de dólares nos cofres dos clubes, quando muitas vezes se ganha mais com a derrota do que com a vitória.
O futebol tem o grande poder de maquiar as coisas, o preto no branco, o azul no branco ou o vermelho no preto pintado nos rostos dos torcedores muitas vezes lhe tampam os olhos para a verdadeira e crua cor do mundo. Mas o futebol também é grandioso, permite nos sonhar, desejar, cobiçar, ensina-nos a disputar e como ganhar. É esperança também, quem nunca ouviu alguém disser: gostaria de ser jogador de futebol.
Ah sim, o nosso grandioso sistema neoliberal nos diz que toda mudança é possível e o que é belo e respeitoso são uma bela casa com um carro bacana na garagem e uma loira dos olhos claros ao lado, claro que, com a Dona-maria-de-tranças na outra casa próxima ao subúrbio. Eu disse próximo, porque ninguém merece o subúrbio, eita que no feio. Meu texto começa a perder a coerência, comecei falando do futebol e agora cá estou falando de subúrbio.
Eu gostaria de continuar a falar dos sonhos... Como é bom sonhar. Quem nunca sonhou com a Cláudia Raia ou com o Dicaprio ou então em ganhar na loteria, que atire a primeira pedra! O senhor neoliberal diz que nos podemos ter tudo isso, ai, como adoro esse senhor tão otimista... Como o adoro. Mas claro que esse senhor, na sua mais divina bondade, pois ele está sentado ao lado do nosso outro grande senhor Jesus Cristo, nos esquece de dizer como é difícil o caminho para os sonhos, que chega a ser muitas vezes impossível. Ou então, não nos diz que esse caminho é na verdade para a ostentação dos sonhos de outros e não os nossos. Mas isso tudo é porque o importante é ter otimismo. Viva a América!
Um outro dia qualquer eu li numa entrevista o seguinte: “ As regiões do nordeste são o nosso foco principal, principalmente a Bahia. Onde geralmente achamos os aspirantes à jogadores de futebol que melhor nos cabe. Isso por conta do elevado índice de miscigenação e o baixo nível de escolaridade. Essa é a nossa receita para o sucesso”. Palavras de um empresário futebolístico, Fulano Alguma Coisa (porque eu sou ético, né gente) loiro dos olhos azuis, pele clara e educação européia. E como é bonito esse contraste do branco com o preto, quem não gosta? Dá-lhes Galo, e viva os seus 100 anos de sucesso!!
E o senhor do branco da frente: quero que meu filho se torne um grande jogador.

O Ser do Ente

Ser colorido
Ser absorto
Ser ele
Ser você
Ser nós
Ser tudo isso, e um pouco daquilo
Ser o que vê
Ser o que sente
Por fim ser do'ente

segunda-feira, 24 de março de 2008

Violetas e Tulipas

Clarice olhou para o céu, o dia estava bonito, mas parecia que ia chover.

*

Melhor volta e pegar meu guarda-chuvas - ela pensou. Onde estava?

- George, você sabe onde está o meu guarda-chuva, sabes que não gosto que mudem minhas coisas de lugar.
- Está exatamente onde a senhorita o deixou.
- O deixei aqui ao lado da porta e ele não está aqui, como podes perceber.
- Minha senhorita, você o guardou em seus aposentos.
- Ah sim, perdão meu caro George, minha memória já não é mais a mesma.
A senhorita sofria de uma doença que lhe ataca todo o sistema nervoso e conseqüentemente a memória.
- E o meu chapéu florido?
- Sobre sua penteadeira, minha pequena.

Ela guardava tudo em seu quarto para que fosse mais fácil de encontrar. Subiu dois lances de escadas e entrou no quarto principal. Seu quarto. Ali havia um monte de coisas, ate mesmo um bule que ela havia ganhado de sua avó. Mas em todo aquele monte de coisas, havia algo que lhe fez fixar o olhar, um vaso de violetas. Ela parou com o chapéu nas mãos e ficou um tempo a encarar a violeta que tinha poucas pétalas e estava um pouco murcha, mas que ainda tinha algo de vida e até mesmo certa beleza. Clarice virou e olhou se no espelho, ela também ainda tinha algo de vida, então sorriu com tranqüilidade para o seu reflexo naquele espelho manchado pelo tempo e poeira. Pegou seu guarda-chuvas e se retirou.
- George peça a Marta que me prepare um bom almoço, estou com apetite hoje.
- Tens certeza de que vais sair? O tempo não está muito bom.
- Não diga bobagens George, o dia está lindo. Tchau.
- Bom passeio senhorita.
- Irei comprar flores e visitar mamãe.

As ruas estavam vazias, as lojas estavam vazias. Não há dia melhor para se fazer compras que num dia de chuva. Clarice adorava sentir o vento frio em seu rosto, fazia com que ela se lembrasse de sua infância nos planaltos do sul.

*

Nos altos planaltos tudo era verde e vermelho com pitadas de outras cores mais, as arvores belíssimas com portes de gigantes, ou melhor, de amedrontar gigantes e um lago maravilhoso dava boas vindas à propriedade dos Oliveiras.
- Clarice, não vá sujar seu vestido, pare de correr menina – sua mãe lhe ordenou. ah, mas como era bom correr por esses campos.
- Está bem mamãe - mas ela não parava de correr.
George, com seus cabelos negros, servia um suco a sua senhora.
- Ah George, não sei o que faço com Clarice.
- Coisas de criança madame. Coisas de criança – ele repetiu sorrindo para a pequena Clarice.
Clarice tinha uma efêmera coleção, ela gostava de colecionar as flores que caiam no chão, passava horas escolhendo as mais belas e mais coloridas. Mas as flores não duravam muito tempo.

*

Clarice entrou na loja de flores.
- Bom dia Ana.
- Bom dia senhorita Clarice. Como você está?
- Muito bem, o dia esta lindo, não achas? Não sei como as pessoas tem coragem de se esconderem dentro de casa só por causa de uma ameaça de chuva, não há nada melhor do que sentir o frescor do dia.
- Mas parece que vai chover muito, senhorita.
- E que importância isso tem? Há coisa mais bela que as chuvas do fim de verão?
- Certo, e o que vai querer?
- Tulipas, Ana, tulipas. Hoje faz nove anos que minha mãe morreu, quero levar lhe as mais bonitas tulipas que tiveres.
- Ah sim, lembro me de como sua mãe gostava de tulipas. Todas as manhãs de domingo ela vinha comprar tulipas.
- Sim, Ana, ela sempre preferiu as tulipas. Eu prefiro as violetas, são simples, são roxas – Clarice sorri – e duram muitos tempos, ou pelo menos deveriam durar. Dizem que as violetas só morrem quando quem as cuidou também morre.
- Não sabia dessa historia, que interessante Clarice...Você também gosta muito de flores, certo?
- Pois certo, Ana, as adoro. Principalmente as violetas.

*

- Oh minha criança pare de correr tanto, se quiete, sabes que sua mãe teme que te machuques.
- George, quero flores, mas todas que aqui tem eu já tenho. Quais são as suas favoritas, George?
- As minhas favoritas não estão aqui, minha criança. Venha vou te mostrá-las.
George e a criança Clarice subiram os planaltos em direção a casa dos empregados. Ele abriu uma grande porta de vidro que dava para um cômodo que a menina ainda não conhecia. Era um cômodo imenso, frio, aconchegante, com muita luz e cheio de flores.
- Que lugar é esse, George?
- As senhoritas não são as únicas que gostam de flores – ele lhe sorriu – escolha a que mais te agradar e será o teu presente.
Eram muitas flores, de todas as cores, de todos os tamanhos e dos mais diferentes perfumes e ate mesmo odores. Mas tudo se misturava numa harmonia incrível. E cada flor lhe disse George, continha a sua historia. Os olhos da crianaça não sabiam onde se fixar, era difícil escolher uma entre tantas, mas eis que no cantinho do cômodo haviam umas flores pequenas de cores roxas e brancas.
- Quero essas, como se chamam?
- Violetas. Essas, minha pequena, são flores que crescem e vivem à reflexo de quem as cuida. As violetas demonstram todo seu respeito e satisfação através de suas pétalas. É necessário que se cuide delas como se cuida da vida de uma criança.

*

- Aqui estão as suas tulipas, as mais brancas e bonitas que consegui encontrar, srta. Clarice.
- Oh, Ana, que maravilhosas estão elas!
As duas caminharam para o caixa
- Anote na minha caderneta e envie para o George, por favor.
- Como de costume, srta.
- Bom dia, Ana.
- Bom dia. Clarice, só mais uma coisa, você está se sentindo melhor, reparei que não está usando a bengala hoje.
- Sim, Ana, estou me sentindo melhor. Bom dia.
Mas se via no rosto da mulher Clarice todo o cansaço que a doença lhe trouxera.

Clarice dirigia se para o cemitério onde sua mãe estava enterrada. O vento começou a soprar forte, por pouco ela desequilibrara, mas continuava sorrindo. Como é bom sentir o vento. A chuva começou a cair lentamente, muito gelada. Melhor tirar o chapéu, não quero perdê-lo. As ruas estavam completamente vazias, ela sentia falta de cumprimentar ou trocar algumas palavras com alguém. O ônibus não demoraria muito a passar, Clarice andou um pouco mais rápido. a estação de ônibus também estava vazia, salvo um mendigo faminto. A senhorita lhe dera uns trocados, mais por medo do que por compaixão. A presença daquele homem a incomodava. Ela não queria ver tristeza ou imundices hoje. O ônibus chegara, para seu alivio e conforto. Estranho o ônibus também estava vazio. Ônibus é sempre um bom lugar para se pensar na vida, mas Clarice não queria isso. Ela tentou manter, também, a mente vazia. Tudo vazio estava bom assim.
A viagem durara quinze minutos, a chuva já tinha parado. O ônibus a deixou em frente ao cemitério. O cemitério também estava vazio. O lugar estava meio sombrio, Clarice chegou a arrepiar se, mas mesmo assim a beleza dali era algo impressionante, as arvores ali lembravam as de sua infância, aquelas que faziam gigantes sentirem medo. O tumulo de sua mãe ficava perto de um ipê, uma pena que nessa época ele não estava florido.
- Olá mamãe, sinto muito ter sujado a borda de meu vestido. Sei que a senhora não gosta. Trouxe lhe tulipas.
A visita não demorou mais que três minutos. Clarice limpou o epitáfio da mãe e deixou lhe as tulipas. Tulipas que sua mãe tanto gostava.

*

Clarice chegou em casa. George já a esperava no portão. Ela resolveu voltar de táxi, cansou se demais para o ônibus.
- Minha senhorita – Clarice nunca se casara – marta lhe preparou um delicioso jantar.
- Perdi o apetite, meu caro George. Vou deitar me, estou muito cansada. Peça à minha pequena que vá almoçar sozinha, mas que antes venha me ver no quarto. Obrigado George. E chame marta vou precisar de ajuda para trocar me de roupa.
- Não está se sentindo bem?
- O passeio me cansou um pouco. Só isso. Agora ande George, faça o que te pedi.
Marta ajudou a sua senhora a se trocar, ela colocou um lindo penhoar azul, e deitou se.
Bateram de maneira suave na porta.
- Entre minha filha. Venha dar me um beijo antes de almoçar.
A menina beijou sua mãe nos lábios.
- Agora vá almoçar, mas antes tenho um presente para te dar. Vê aquele vaso perto da janela, ele é seu presente.
- Mas mamãe ele está vazio.
- Não seja tola, menina, tem uma semente ai. Uma semente de violetas.
- O que é uma violeta mamãe?
- Vê aquele outro vaso ali, próximo a penteadeira? Aquilo é uma violeta.
- Nossa mamãe, mas que flor feia.
Clarice sorriu docemente.
- Não te preocupe, aquela é a minha, que já está muito cansada e velha. Pode ter certeza que a sua se tornará muito bonita. Agora vá almoçar e peça ao George para te ensinar a como cuidar dessa flor.
- Pois sim, mamãe, beijos.

A menina saiu. A senhora fechou os olhos, adormeceu e logo em seguida a ultima pétala de sua violeta caiu. A chuva começara novamente.




sexta-feira, 7 de março de 2008

Solturas

Lápis Caneta Rabisco Papel Desenho
Borracha Palavra Lagrima Tosse Palavra
Voz Borracha Bolacha Dígitos Suor
Sabor Saliva Fúria Amor Saudade Ódio
Cigarro Isqueiro Fumaça Fogo

Poeminha

Um dia li um poema onde dois homens se olharam, desviaram os olhos, depois sorriram para o teto. A porta do elevador se abriu, eles entraram e se olharam de novo, e dessa vez não olharam para o teto.

MADRUGADA

Bandinni estava com uma dor de cabeça horrível já tinha feito de tudo,tomou todos os analgésicos que estavam na gaveta.
- Puta que pariu! Esses carros não se calam, quem foi o desgraçado que inventou a buzina? Querer dormir é pecado?

COLGATTI

O visionário estava rindo.

Não consigo parar de rir, quero rir... Isso me dá rugas, sinto que estou usando demais os músculos do rosto. Meus olhos caem, a pele seca os dentes apodrecem, mas lá estou eu sorrindo, porque quero. Envelheço precocemente por causa de minhas gargalhadas. Acho que não vou parar.

Acordei hoje e resolvi levar a vida dessa maneira, alegre e sorridente...
O ar está bacana as árvores em seus lugares tudo parecia normal tudo parece com o tédio.
[Quando estamos felizes o tempo passa mais rápido]

Não tenho muito mais o que fazer nesse lugar, sorrirei para que tudo passe rápido. As aves voam como flechas, as nuvens tornam se rabiscos, as pessoas máquinas, os carros voam, o ar torna se negro e a chuva ácida. Estou ali sentado com a chuva queimando meus olhos.

- Oi.
Um amigo senta se a meu lado, há muito tempo não o vejo. Que estranho ele ainda está com a pele firme. Ah sim, ele não está sorrindo deve ser por isso. A chuva não o queima.

Com as costas largas eu o vejo abrir o guarda-chuva.

Tento sorrir com mais vontade... A necessidade do adeus me vem.
Fecho meus olhos queimados.
Adeus.