terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Carne

O homem é um animal que nasceu para matar. A sociedade, que ele próprio criou, lhe disse: Não, não matarás.

Ele lhe tocava a pele, que era macia e branca como uma pluma. Esse toque despertava nele os mais profundos sentimentos do ser. Bizet tocava ao fundo, muitas velas acessas. Ele montou o lugar romântico ideal para ela, que passou o dia todo comprando flores, se perfumando e sorrindo.

Beijavam-se com profundo desejo, muita paixão, muito querer. Aos poucos ele a despia, nossa que seios maravilhosos, redondos o mamilo explodindo de prazer, os cabelos tampavam lhe o rosto, cabelos vermelhos como o sangue. Toques e mais toques. Prazer e desejo, a carne. A saia, onde estava a saia? Não sei, talvez perto da escrivaninha. Ele com o seu sexo, firme, fez com que eles se tornassem um só ser. A carne, branca avermelhada, não queria parar, ansiava por mais. O amor, como é belo, foi experimentado de todas as formas e jeitos possíveis naquele quarto acesso por velas. O tempo passa e a carne avermelhada, como o sangue, responde com um gemido que estava satisfeita. Pelo menos uma das carnes.
Ele precisava de mais, precisava elevar à máxima potencia os seus desejos, sua fúria, sua vontade. Aí, digo novamente, o homem nasceu para matar. Ele não parava, os olhos dela, que como o mamilo explodia de prazer, agora estavam um pouco angustiados, temerosos. Mas ele precisava de mais, foi então que como instinto pegou a faca do jantar, tampou lhe a boca... a face da mulher agora rubra como o medo. Ele precisava de mais, só isso, acho que todos nos podemos entendê-lo. Risos do visionário. Cravou lhe a faca sob o umbigo, olhos arregalados. Pensar e sentir a lâmina rasgar aquele corpo branco despertou naquele homem o mais primário dos desejos de alguém. Começou a cortar a face da mulher, seus braços, arrancou lhe os lábios, e o sangue escorria como uma serpente, linda e vistosa. Agora o sangue cobria, junto com seus cabelos, a sua face. E aquele momento termina não com um gemido, mas com um grito. Não, não. Dois gritos, um de prazer e outro de pavor. O maior dos encontros acontece, o encontro entre a vida e a morte.

No final das contas o que realmente importa é o prazer, a qualquer custo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Utopia

Imagina um mundo sem trabalho, sem divisoes nem preocupacoes,
nem portas nem vidraças...
onde tudo fosse orgias,apenas.

O Guerreiro

E lá estava o guerreiro... Cansado, exausto. O sangue, de um brilho intenso, escorria em seu rosto, a batalha já durava dias e noites. O corpo todo lhe doía, sua visão já ofuscava. Diante dele seu inimigo alto, vivo, ainda inteiro apenas com pequenos arranhões e lhe preparava um outro golpe, talvez o ultimo.

O campo de batalha era lindo, parecia um templo ou qualquer outro lugar sagrado. Tinha algo de divino naquele lugar suspenso com suas arvores que mais pareciam gigantes vigilantes, uma cachoeira que chorava por todo o sangue derramado e o ar úmido com um cheiro que eu, o visionário, não sou capaz de explicar, só sei dizer que também era divino.

Eis então que o inimigo faz sua espada dançar no ar de uma maneira firme. Os olhos do guerreiro se enchem de pavor e se vê obrigado a colocar sua espada em posição de defesa. O inimigo se movimenta rápido e num décimo de segundo ele está golpeando, como um leopardo elegante e feroz, o guerreiro que consegue numa deselegância discreta defender se. Mas ele sabe que não vai ser possível resistir muito mais tempo. Teria ele capacidade de bolar um plano, teria seu inimigo algum ponto fraco? Não dava tempo de pensar muito, os golpes continuavam de maneira incansável. Nesse instante seus olhos se cruzam, e ele entendeu que a ultima coisa a se fazer era retirar o pavor de seus olhos. Pavor este que foi substituído por um brilho de olhar de quem está preparado para morrer sem medo.

Coisa primeira

Passo horas d’fronte a um espelho tentando descobrir quem sou....
Será que sou essa imagem fosca e turva...acho que não...
Não me conformo em ser uma imagem,
Tento, então, buscar o ente que a forma
Mas como faço pra enxergá-lo?
Eis o que faço: viro-me pra ti e olho nos teus olhos
...E o que vejo, nada alem d’outra imagem, só que desta vez diferente
Uma imagem banhada em água, água que não seca, percebo algo
De eterno, será o infinito entre os meus e os teus olhos?
Entristeço-me com essa distancia infindável que existe entre mim e eu mesmo, a mesma distancia que separa um décimo de um oitavo, maldito infinito que me deslumbra e temoriza.

Resolvo pegar um papel e um giz de cera
Incessantemente escrevo:
Meu nome, meu nome, meu nome... quando percebo ele já não é mais meu [nome]

[Maldição]

Agora nesse papel feito de luz e sombra, minha imaginação dança
Escrevo outros mil nomes, qual deles será o meu?
Já não sei....
De repente desenho uma estrela,
Encantado objeto que some no infinito espaço do papel

[Me perco novamente]

Procuro-me então nas vozes
Poetas, bêbados, equilibristas, pingentes, astronautas
Todos me gritam...
Mas não consigo saber de onde vem o som

Percebo ali na escrivaninha uma concha
Aproximo-a do ouvido, acho que finalmente descobri de onde vem o som
Mas eis que me acho dentro de um vazio, no qual o som não pode se criar
Então vejo me perdido dentro da concha [vazia]

Por fim penso que não posso me achar nunca
Então percebo como é boa a sensação de estar perdido no infinito vazio
Quero o infinito, quero sê-lo!
Eis que finalmente me acho...

Bobagem

Coisas estupidas sao ditas a toda hora.

Você consegue imaginar algo que nao tenha sentido? Ou que nao tenha uma funcionalidade? Algo que existe simplesmente por existir? Pior, você conseguiria criar alguma coisa que seja desprovida de sentido? Eu não.

A aula estava tediosa, escrevia meu nome em cima do xerox da aula de "estudos sociologicos", que tinha um bonequinho que ficava sorrindo para mim. Entao comecei a contornar seus labios, suas pernas, seu boné. O professor continuava a falar que a cadeira podia nao ser a cadeira, começava entao um discurso muito chato sobre o metodo da duvida de Descartes. Até que de repente ficou interessante quando o Professor disse que existiam coisas sem sentido...Poxa, como isso me incomodou.
Levantei minha mao, me identifiquei e perguntei: "O Sr. poderia me dar um exemplo de alguma coisa que exista sem sentido??"
- Um certo artista- ele me respondia - uma certa vez pegou um mictorio e o colocou como uma exposicao de arte, uma arte que responderia justamente a essa pergunta da existencia de coisas sem sentido.
- Mas, veja bem - eu disse - fazer uma arte sem sentido já nao é dar a ela justamente o sentido da falta de sentido?

Ele se enrolou um pouco, disse que nao. E começou de novo o discurso de Descartes.
Antes dele abandonar a sala, "professor será que voce poderia criar algo sem sentido e me trazer na proxima aula?"

- É, acho que nao.